“Tribos de índios desapareciam
E as selvas de pedra se construiam
Revolução industrial e desenvolvimento
Começavam a surgir o devastamentos
Vindo da Europa e de suas naus
Explorando o Brasil, tendo lucro total
Matando nativos queimando nosso ouro
Por isso que vivemos hoje nesse sufoco.”
Colônia de Exploração – Bêca Arruda
Nem os mais sábios anciões indígenas poderiam prever as consequências da chegada do homem branco em Pindorama. As feridas causadas pela agressiva colonização dos europeus permanecem abertas e marcam nos registros dos povos indígenas o início de uma era de resistências, que já dura mais de 5 séculos. Neste cenário antagônico, a encenação que se exibe varia entre picos de guerra e destruição, revestida e ocultada pelo fundamentalismo do Ocidente. Esta era de resistência vem passando por várias etapas, acompanhando os desgovernados avanços do homem branco e o distanciamento de seus ancestrais, e ganha uma nova perspectiva com os recursos democráticos de comunicação da cibercultura.
Durante os séculos seguintes ao descobrimento europeu da América, as novas colônias americanas se tornaram reféns das transformações das sociedades da Europa. Os questionamentos de Martinho Lutero abalaram as estruturas da igreja católica no século XVI, que direcionaram seu medo odioso para as ramificações seguintes que surgiram do Protestantismo. As reformas protestantes, aprofundando-se na brilhante análise de Max Weber em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, foi fundamental para a transição de uma ideologia desgastada pela intolerância religiosa, para uma adaptação do pensamento cristão, que descentralizou o poder do clero sobre as relações sociais e fez emergir uma nova conduta religiosa a qual se projetou sobre as relações comerciais e econômicas do sistema capitalista tradicional. A predestinação, acúmulo de conquistas e riquezas materiais, o sentido da vida concentrado na palavra da bíblia e não na igreja, são apenas algumas das características destas reformas éticas nos moldes do cristianismo.
Com o crescimento da burguesia, o regime absolutista se tornou ineficiente, originando uma série de revoluções burguesas que podem ter servido de base para a posterior Revolução Industrial, principiada na Inglaterra no século XVIII.
Os diferentes questionamentos críticos e a abertura para a racionalidade tornaram o avanço da ciência fundamental para o desenvolvimento de novos meios de produção diferentes dos costumes artesanais da sociedade feudal, que otimizados com a manufatura, geraram grandes mudanças que reconfiguraram os padrões sociais estagnados do velho mundo. Conforme a síntese destas mudanças avançava, um novo estilo de vida se acentuava em diferentes países da Europa: o crescimento da industrialização e de centros comerciais, intensa urbanização e êxodo rural, crescimento populacional acelerado, surgimento de uma nova cultura estimulada pelo consumo, são alguns fatores considerados como avanços das sociedades europeias, de acordo com a ideia individual que cada leitor tem de progresso.
Adornos do Brasil Indígena - Resistências Contemporâneas |
No entanto, o que seria deste desenvolvimento dos países europeus sem a intensa e agressiva atividade exploratória das colônias e de seus habitantes, em especial a América e este território que hoje chamamos de Brasil?
Não é necessário um estudo aprofundado para refletirmos sobre esta questão, principalmente ao olharmos o processo de colonização e suas consequências na perspectiva dos povos indígenas, como podemos observar em muitas de suas narrativas. Esta perspectiva, bem como as próprias culturas, terras, e direitos indígenas, sofre com o ocultamento etnocêntrico das culturas euroamericanas em diferentes esferas há vários anos. No processo de escolarização por exemplo, pouco se aprende sobre as culturas ameríndias e sua resistência durante a colonização agressiva dos europeus e na atualidade. Por que? Tendo em vista as fortes e evidentes raízes culturais oriundas dos povos indígenas nativos destas terras? Este ocultamento, herdado do período colonial, alimentado pelo etnocentrismo contemporâneo e estimulado pela cultura de consumo (que infecta todas as partes do planeta nos afastando da sensata natureza interior), implica em uma desvalorização destas raízes e a incapacidade do homem branco em interpretar diferentes formas de relacionamento com os recursos naturais e com o mundo que nos envolve.
Apesar desta dissociação e dissimulação cultural, o advento da cibercultura possibilitou uma nova análise destes processos históricos e seus desdobramentos na contemporaneidade, considerando as novas possibilidades de produção de conteúdo e independência comunicativa que os povos indígenas conquistaram e conquistam à medida que se incluem neste universo digital. Ao mesmo tempo em que instrumentam a divulgação de sua cultura, perspectivas históricas, lutas sociais por demarcação e garantia de direitos, como podemos observar em muitos sites indígenas e não indígenas, os povos ameríndios também fazem uso dos recursos e facilidades da cibercultura para a educação, informação e conhecimento por exemplo, rompendo as barreiras coloniais e fixações do estereótipo de índios primitivos e selvagens, e favorecendo assim sua inclusão social e cidadã no cenário contemporâneo.
A internet tem se mostrado uma poderosa ferramenta para as culturas indígenas em diferentes aspectos de seu cotidiano e sua inclusão social. Abordaremos esta e outras temáticas em nossas próximas postagens. Fique por dentro e acompanhe as atualizações do Ciberindígenas nas redes sociais, mergulhe nas sabedorias das culturas ameríndias e crie novas concepções sobre esta nossa passagem na ordem natural do universo. Viver é muito mais que ganhar e gastar.
Texto: Cauê Colodro
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