Esta transição dos meios de comunicação massivos para a possibilidade de um novo estilo de comunicação, social e digital, proporcionou uma abertura e ampla divulgação do tratamento de temas de cunho social e ativista no que diz respeito a minorias étnicas, como as tribos indígenas do território brasileiro. Populações que antes estavam invisíveis, ganharam espaço e voz nas mídias digitais.
Uma das principais características da cibercultura e dos meios de comunicação digitais é a interatividade, que permite ao usuário a troca constante de informações, sendo ele tanto produtor como consumidor de conteúdo. Outro fenômeno característico da cibercultura é chamado desterritorialização: os limites territoriais e delimitações de tempo e espaço são anulados, permitindo que determinado conteúdo seja propagado em múltiplas direções, concretizando o acesso em qualquer território do planeta para qualquer receptor disponível.
A relação entre cibercultura e a cultura indígena tem suas origens fundadas em diferentes motivações. O estereótipo do índio no Brasil é marcado por delimitações oriundas dos modos comportamentais dos povos diante do ambiente em que atuam. Seus costumes se desenvolvem por meio do uso dos recursos naturais que os cercam, de modo conveniente em respeito à natureza e longe de dogmas ou sistemas sociais da sociedade moderna. Para analisar as motivações essenciais a esta progressão cultural, é necessário um olhar atento a fatores que ultrapassem a relação ambiente e indivíduo, e exige uma observação psicológica, intrínseca e minuciosa, a qual possibilita um mergulho profundo adentro das superfícies da consciência humana. Tais questionamentos apontam para uma grande variedade de teorias a cerca desta subjetiva motivação, que se lançam desde as análises psicanalíticas de Freud, a “essência divina individual” de Baruch Spinoza. Porém, a identidade tradicional do índio tem hoje uma influência significativa dos efeitos da globalização e modernidade. Os estereótipos conservados no senso comum são insuficientes para interpretar e analisar a relação do índio com os novos meios de comunicação social e digital.
As influências destes fenômenos tecnológicos transcendem a esfera dos valores culturais indígenas, empenham um papel evidenciado pela preservação das tradições indígenas, motivam a abordagem de questões sociais, como a demarcação de territórios em defesa diante do agressivo avanço de latifundiários, madeireiros e garimpeiros que se apropriam e usurpam o habitat indígena disponível a estes povos muito antes da colonização. Este é apenas alguns dos muitos problemas enfrentados pelas comunidades indígenas no Brasil, como mostra os documentários Indígenas Digitais (2010) e First Contact: Lost Tribes of the Amazon (2016).
Neste contexto, tais questões socioculturais despertam um olhar peculiar na relação entre o índio e os novos meios de comunicação e produção de conteúdo, tendo em vista a facilidade de exposição e acesso a novas informações e conhecimento. Atuando como mediadora entre a posição do índio na sociedade junto aos seus direitos, os recursos da cibercultura possibilitam aos povos indígenas o acesso a informações favorecendo as condições para sua inclusão social, e se direcionam desde os campos da educação ao múltiplos horizontes culturais, estando todos no mesmo quadro. Esta mediação, considerando as facilidades de interação da cibercultura, fornece aos povos indígenas a independência na comunicação, e tem papel fundamental na quebra do preconceito proporcionando a divulgação desta rica cultura brasileira e sua necessidade de preservação.
O uso dos recursos da cibercultura está cada vez mais difundido na cultura indígena, e esta utilização se mostra fundamental para inclusão digital dos povos, no que diz respeito ao acesso de novos meios de informação e conhecimento. Ao mesmo tempo é marcada por motivações extrínsecas geradas pela agressão do homem branco ao território cultural e ambiental dos povos ameríndios. Diferentes dos índios colonizados, os povos atuais não dispõem apenas das tradicionais lanças ou arcos e flechas para se defenderem, e recorrem ao uso de uma outra ferramenta mais poderosa: o arco e flecha “digital” da cibercultura.
Fotos: Zas Comunicação e Arte
Texto: Cauê Colodro
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