Nos dias atuais, observamos cada vez mais o aumento do uso das mídias digitais em diferentes esferas da sociedade. Com o enfraquecimento do tradicional controle exercido pelos meios de comunicação de massa, as facilidades desta nova cultura digital e a viabilização de custos dos modernos meios de comunicação criaram o cenário onde não há protagonistas, e sim uma relação antagônica entre os novos produtores de conteúdo, munidos dos invariáveis recursos da cibercultura. Este contexto, junto ao desenvolvimento de softwares livres e novas plataformas de exibição de conteúdo, possibilitou a democratização na exposição de informação, onde o usuário não é limitado apenas ao consumo e passa agora a produzir conteúdo, sendo chamado pelos estudiosos de Prosumer (junção das palavras em inglês producer e consumer).
Curtir, comentar, compartilhar, vincular conteúdo multimidiático, ou apenas um smartphone em mãos são alguns dos aspectos que tornam os usuários das mídias digitais uma fonte poderosa de informações. As potencialidades dos novos recursos de comunicação se desdobram por várias áreas do conhecimento, e ultrapassam os limites solidificados pela convencional concepção que eleva as novas tecnologias a um grau prejudicial ao modo de vida das pessoas. Porém, a questão não se resume apenas em definir a tecnologia como boa ou ruim, e sim o uso que se faz dela.
O papel de vilã que a tecnologia pode assumir perde esta sua limitada caracterização ao analisarmos atentamente a inclusão digital dos povos indígenas do território brasileiro.
Considerando as perspectivas históricas já tratadas em nosso blog, além das próprias ideias do leitor, não há dificuldades em percebermos que os povos indígenas vêm passando por uma era de resistências, iniciada com a chegada do homem branco no território americano. A luta por demarcações territoriais contra invasões de latifundiários, madeireiros e garimpeiros, a preservação ambiental, a constante defesa de seu rico patrimônio cultural e a garantia de direitos são algumas das características da resistente postura indígena diante dos desgovernados avanços da sociedade em que vivemos. Contudo, na atualidade os povos indígenas encontram uma forte aliada em suas lutas: a internet.
A condição de Prosumer, tão vinculada aos novos usuários da rede mundial de computadores, aplica-se também aos povos indígenas. Os parâmetros desta nova cultura digital têm um papel fundamental na inclusão social do índio a sociedade. Na rede, os povos encontram seu espaço, anulado há tempos pelo homem branco, e divulgam suas culturas afirmando sua riqueza oriunda de uma forma excepcional de interpretar o mundo. Além disso, as comunidades indígenas ganham voz no que diz respeito a exposição de lutas por direitos sociais e ambientais, e assumem um papel ativo livre de passividades. Tal fato é facilmente observado ao navegarmos pelos diversos sites indígenas (Confira a lista de sites).
Aldeia Krukutu, Parelheiros/SP |
Um dos primeiros povos a se conectarem à rede foram os Ashaninka, que habitam as terras onde hoje é a cidade de Alto Juruá, na divisa entre o Estado do Acre e Peru. O contato com a internet se mostrou essencial para denunciar a devastação ocasionada por madeireiros peruanos, que avançavam sobre os territórios Ashaninka com maior frequência e agressividade, destruindo florestas e seus recursos, além de ataques às aldeias. Um painel para captação de energia solar e um computador se tornaram pilares na luta contra as invasões dos madeireiros peruanos. Os Ashaninka então enviavam e-mails ás ONGs denunciando as ações agressivas que ocorriam em seu território. As informações eram repassadas ao governo e enviadas a Polícia Federal, que iniciou junto ao Exército uma ação combativa aos madeireiros ilegais. Hoje os Ashaninka possuem uma associação e usam blog e twitter para divulgarem suas ações de preservação socioambiental, além de afirmarem seu patrimônio cultural garantindo seus direitos de inclusão social e digital.
Outro projeto notável do uso da internet por povos indígenas é do povo Paiter-Suruí, que habitam onde hoje é localizado o município de Cacoal (RO). Em 2007, durante uma palestra nos Estados Unidos, a liderança indígena da tribo Almir Suruí divulgou ao mundo o sério problema que a comunidade passava (e ainda passa) em relação a proteção de seu território, constantemente invadido por extrativistas ilegais. O cacique então expôs a grave situação de seu povo, e solicitou ao Google a ajuda necessária para o monitoramento das florestas. A empresa então abraçou a causa, e fez a doação de notebooks, aparelhos celulares e GPS, além de disponibilizar treinamentos para os indígenas da tribo para que aprendessem a usar as tecnologias de geolocalização, filmar e usar o Youtube como forma de fiscalizar e denunciar o desmatamento, entre outros crimes ambientais e ameaças a comunidade. Hoje os Paiter-Suruí possuem um estruturado site, onde vinculam matérias e notícias que abordam assuntos relacionados desde a saúde indígena, a artigos expondo suas lutas em outras línguas como inglês e francês.
Estes são apenas alguns exemplos da conexão entre povos indígenas e a cibercultura, e como o eficiente uso da tecnologia pode causar grandes transformações nas perspectivas que se têm desta relação pouco conhecida atualmente. Arcos e flechas deixaram de ser a única forma de defesa das comunidades indígenas, que encontram hoje uma maneira eficaz de afirmarem sua cultura e garantir direitos constitucionais e socioculturais. O diálogo intercultural é indispensável para o reconhecimento da rica cultura dos povos originários das terras que habitamos.
Para saber mais acesse nossa lista de sites indígenas. Siga-nos nas redes sociais e fique por dentro de nossas postagens, os povos indígenas têm muito a nos ensinar.
Fotos: Zas Comunicação e Arte.
Texto: Cauê Colodro.
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