Exposição Adornos do Brasil Indígena: Resistências Contemporâneas. |
As
evidências antropológicas indicam que a progressão evolutiva da espécie humana
aconteceu nas regiões africanas, gerando assim muitos questionamentos a respeito
da povoação do homem em outros territórios do globo. Neste contexto, muitas teorias
sobre a chegada do homem ao continente americano surgiram e se mostram
indefinidas até os dias atuais. A mais aceita é a hipótese de que o homem
migrou para a América atravessando o estreito de Bering durante as eras
glaciais, quando o nível do mar diminuiu e possibilitou a passagem de animais
terrestres. O estreito se localiza no mar de Bering, que delimita a menor
proximidade entre as terras americanas e o continente europeu, situado entre a
América do Norte e a Rússia. Apesar das incertezas destas condições
migratórias, o fato é que, neste novo território, a espécie humana mostrou
novamente sua autonomia em desenvolver ricos patrimônios culturais.
Porém, enquanto os Incas, Astecas, Maias e outros povos antigos da américa central/sul aprimoravam seus avanços culturais, entre concepções matemáticas e cosmológicas, desenvolvimento da agricultura e uma religião fundamentada na natureza e seus recursos, a Europa ocidental passava por um nebuloso período marcado pela intolerância religiosa, social e etnocêntrica da Idade Média. O etnocentrismo da época, regido pelo fervor da religião católica, ganhou grande dimensão e implicou confrontos ideológicos determinantes para a história, como a reforma protestante de Lutero no século XVI. Neste cenário conturbado de conflitos culturais das sociedades europeias, as propriedades sociolinguísticas e designativas da linguagem deram origem a um novo termo para definir este caráter fundamentalista europeu: o eurocentrismo. E este conceito difundiu-se por muitos territórios do planeta graças ao pensamento expansionista das grandes navegações, e objetivava a sobreposição das culturas europeias como referência mundial à sociedade moderna. Os impactos do eurocentrismo em outras culturas é facilmente percebido ao analisarmos as condições atuais das antigas colônias, considerando o caráter explorador e agressivo da chegada de europeus em terras desconhecidas a esta limitada interpretação dos diferentes padrões culturais. A cada nova “descoberta” territorial europeia a história parece se repetir, a busca constante pela anulação cultural dos novos povos contatados, escravização e a exploração de recursos naturais são algumas das características que marcaram a expansão do eurocentrismo. Em território sul-americano, rico em diferentes aspectos e gerador de uma abundante diversidade cultural proveniente dos povos indígenas, não foi diferente com a chegada dos europeus.
Exposição Adornos do Brasil Indígena: Resistências Contemporâneas. |
Segundo o PIB (PovosIndígenas do Brasil), na época da chegada dos portugueses onde hoje é o
território brasileiro, estima-se que havia mais 1.000 povos habitando a região,
somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. Nos dias atuais, estão listados 247 povos e 150 línguas diferentes (alguns
povos ainda vivem em isolamento). A
interpretação equivocada das culturas indígenas como unidade singular se mostra
insuficiente diante da complexidade cultural deste patrimônio. Sua pluralidade
se desdobra como um grande rio constituído de diferentes afluentes, que compõem
um complexo sistema hídrico onde cada unidade se afirma em sua essência cultural
originária, e se projeta nos terrenos da mitologia, cosmologia, astronomia,
artes, poesia, rituais, linguística, habitação, e fascinam os que se dedicam a
nadar e mergulhar fundo nessas águas. Diante da imensa variedade dos modos de
vida das culturas indígenas, a tentativa europeia de afunilar este rio
multicultural e direcioná-lo ao córrego do eurocentrismo, trava uma dura e
sangrenta batalha que já dura 516 anos, e vem sendo omitida desde então pelas
instituições, formais ou informais, detentoras do poder da informação.
Entretanto, na atualidade, os povos indígenas vêm utilizando
cada vez mais uma moderna e poderosa ferramenta em sua defesa: a cibercultura.
As propriedades democráticas de consumo e produção de conteúdo desta nova
cultura digital estabelecida pela chegada da internet, lançam um novo olhar
sobre os aspectos multiculturais das comunidades indígenas, e rompem com o
ocultamento das suas lutas sociais e ambientais, além de expor para o
conhecimento da sociedade a importância e relevância das culturas ameríndias. Se
analisarmos com atenção, são inúmeras as influências destas culturas em nossa
sociedade atual, desde nomes e expressões até costumes cotidianos, alimentares
e sociais. Entretanto, a apropriação miscigenaria do homem branco sobre estes
aspectos desconsidera tais referências culturais, evidenciando uma forte
herança do eurocentrismo e cria uma imagem do índio selvagem e primitivo
incapaz de responder por questões de sua própria vida e ambiente em que vive. Sem
autonomia, acaba anulado da sociedade moderna e tratado exclusivamente como
objeto de preservação.
A realidade dos povos indígenas atuais está bem distante
desta concepção. Os parâmetros da cibercultura deram voz ativa ao índio, e ela
ecoa pelo ciberespaço quebrando paradigmas e preconceitos do senso comum,
desatando os nós deixados pela colonização e conscientizando a sociedade a
respeito do rico patrimônio cultural do território em que vivemos.
Acompanhe nossas postagens e mergulhe também nestas águas multiculturais e vença a reprodução estereotipada de opiniões sobre as ricas raízes da cultura brasileira.
Confira - Sites Indígenas
Fotos: Zas Comunicação e Arte.
Texto: Cauê Colodro.
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